Empresas brasileiras querem inovar, mas não sabem como, diz cofundador de aceleradora

Para Andrew Humphries, cofundador da The Bakery, aceleradora inglesa com escritório em São Paulo, vontade de inovar deve partir dos executivos C-level

Matéria original: Época Negócios

Andrew Humphries, cofundador da The Bakery (Foto: Divugação)


A inovação no Brasil está em fase de amadurecimento, diz Andrew Humphries, cofundador da aceleradora britânica The Bakery. Isso vem com uma mudança na expectativa que jovens têm para suas carreiras, coisa que, diz ele, é similar entre brasileiros e ingleses. “São mercados similares. Em ambos os países, as pessoas costumavam pensar que deveriam estudar e trabalhar em uma grande empresa. Mas isso está mudando”, diz a Época NEGÓCIOS. “A cultura do empreendedorismo tem chamado a atenção dos jovens no Brasil e na Inglaterra.”

Um sinal dessa mudança é o crescimento da comunidade de investidores no Brasil. “Vejo empreendedores ganhando dinheiro e se tornando investidores. Isso é importante para o ecossistema”, diz. Das companhias tradicionais, vê o desejo de inovar mesmo sem ter certeza como realizar tal processo. “É um desafio global e muitas empresas têm adotado estratégias diferentes. A inovação só vai acontecer se vier de cima para baixo”, diz.

Veja abaixo a conversa com Humphries:

Época NEGÓCIOS: As empresas brasileiras realmente querem inovar?
Andrew Humphries: Querem, mas não sabem como. Em muitos lugares do mundo, há uma cultura corporativa que tenta resolver todos os seus problemas internamente. “Sempre fizemos assim e não vamos mudar. Nada vai revolucionar minha indústria”, é o que dizem. O que vale até a próxima disrupção chegar. Ao mesmo tempo, há também a cultura da repetição que força pessoas a pensar que elas só servem para uma única função. Mas isso está mudando. Cada vez mais, pessoas dentro das corporações percebem que o mundo já não é mais o mesmo. E isso resulta em inovação. Mas o processo é mais rápido quando executivos C-level percebem que precisam mudar. Se não, dificilmente conseguirão proteger sua empresa do futuro.

E como as empresas podem melhorar?
Tudo começa com o desejo de mudar. E aí é preciso analisar os obstáculos culturais do mercado onde se está inserido. Depois, estruturar uma estratégia que as pessoas possam entender e se conectar. Por último, montar o que chamo de “ferramentas” para inovar, mostrando a todos de que forma você pensa essa nova fase da empresa. Inovação deve ser responsabilidade de todos na companhia. Cada gestor deve ter sua própria meta de inovação. Uma vez me disseram, em um exemplo, que se um CEO fizer de segurança sua prioridade, a empresa inteira se preocupará com segurança. Se ele não se importar, ninguém vai. Todos devem saber a relevância da inovação e as suas responsabilidades para ajudar a empresa nesse sentido. É uma jornada longa, que pode levar anos.

Sobre startups, como elas podem melhorar para atrair grandes empresas?
Praticar é a resposta. Ser um bom empreendedor é difícil e você tem que ser o melhor. Se você quer competir num nível global, é preciso ser o melhor, saber exatamente o que está fazendo. Saber porque a sua tecnologia é a melhor, conhecer todos os seus competidores e entender o que o seu investidor está buscando. A startup precisa reconhecer os problemas das grandes empresas e dos consumidores e resolvê-los. Isso não é fácil. É preciso trabalho duro, tempo e investimento. Em muitos casos, não dá certo da primeira vez, então você precisa tentar de novo. E aí leve essas lições e aprendizados com você. Não é fácil ser um bom empreendedor. Requer muito trabalho.

Quanto tempo vai levar até o ecossistema brasileiro se tornar maduro?
Eu acho que vocês estão chegando lá. Estão surgindo cada vez mais espaços de inovação, as grandes empresas têm se envolvido. O Softbank anunciou um fundo bilionário na região [o fundo vai investir US$ 5 bilhões em startups da América Latina]. Esse vai ser um salto no ecossistema. O que é mais importante é ver as companhias de olho nessa fatia, percebendo que são uma parte de extrema relevância para o mercado de startups.

Quando caminho pela Avenida Faria Lima [importante avenida de São Paulo] e vejo patinetes dominando as ciclovias, penso que nada disso havia sido inventado cinco anos atrás. Nossas vidas estão mudando diariamente. A maioria dessas mudanças não teve a ver com grandes empresas, mas startups pequenas investidas por fundos de venture capital. E os fundos de VC não se importam se vão lucrar. Eles querem ver o futuro acontecer. Quem não se envolver corre o risco de ficar de fora.

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